|Parando a feira

Após lançar pagode baiano “Consumo” no mês da visibilidade Trans, a cantora Raquel Virgínia chegou na última terça-feira [14], em Salvador, para inaugurar a fase solo de sua carreira musical. A Bahia nunca saiu do pensamento de Raquel Virgínia, e é o palco escolhido para o lançamento, ao lado de O Poeta, de um debochado pagodão baiano – tão provocante e sensual quanto a inusitada dupla de cantores que parou a Feira de São Joaquim, em Salvador, para gravar o clipe de “Consumo”.

A música chega às rádios baianas e plataformas digitais a partir de hoje [16/01] e antecede o lançamento oficial do projeto solo pela Warner Music. Na última terça-feira [14/01], a co-criadora do prestigiado trio “As Baías e a Cozinha Mineira” resolveu voltar à cidade em que um dia pisou com o sonho de subir em trios para cantar Axé. Agora, ela volta sabendo quem é, e a fim de reescrever sua jornada musical que começou ainda na adolescência na periferia de São Paulo, quando se chamava Rafael Cassio Vitor e escrevia, em um caderno escolar, hipotéticas canções que imaginava um dia serem gravadas por Ivete Sangalo. O tempo passou, Rafael se formou em história pela USP e seguiu a carreira de professor até assumir sua verdadeira e definitiva identidade, Raquel Virginia, uma mulher trans determinada a vencer ou vencer.

O sonho de cantar Axé ficou para trás, mas foi à frente da transgressora e prestigiada banda de MPB “As Baías” que Raquel Virgínia conquistou reconhecimento artístico, duas indicações ao Grammy Latino e até gravou a música ‘Mãe’ com Ivete Sangalo durante a pandemia. A banda se dissolveu, Raquel enveredou por uma bem-sucedida carreira de empresária na área de marketing com sua agência de inovação NHAI!, passou a atender a grandes marcas de consumo de massa e deu voz à causa LGBTQIAPN+ em entrevistas, consultorias e até na ONU. Em janeiro de 2025, durante o mês da visibilidade trans, Raquel Virgínia retorna a Salvador para lançar uma parceria inusitada com O Poeta, novo nome promissor da cena musical baiana. “Tinha que ser na Bahia, lugar da mistura, onde as fronteiras do preconceito são atravessadas pela alegria e pela liberdade, onde um homem hetero pode contar uma história divertida ao lado de uma mulher transexual sem problemas. Eu quero falar com o povão dessa terra ímpar, servir diversão, dança, ousadia e fazer pensar. Se foi na Bahia que descobriram o Brasil, é lá que quero me redescobrir”.

Gravado na eclética e tradicional Feira de São Joaquim – entre temperos, pescados, artesanato, frutas e legumes – o clipe de “consumo” é mais um capítulo do projeto “Raquel à venda”, um trabalho onde assume uma personagem pop que quer falar do capitalismo, do consumo, uma fotografia social contemporânea. “Raquel à Venda” é o projeto para o “alterego” criado por Raquel Virgínia para contar uma história que vem sendo narrada em seus últimos clipes, “Da me mas” e “Hipnose”, inspirados por Pedro Almódovar, nas divas do pop e no mercado consumidor onde qualquer um parece estar disposto a pagar o tal preço da fama. No universo de Raquel Virgínia nada é o que parece ser e cada peça dessa experiência serve para contar uma história provocadora, onde a própria artista se permite ser a cobaia da experiência sem querer ser literal, óbvia ou presa a padrões e tendências. “A despretensão e a liberdade de escolhas são a essência desse trabalho, que foge de rótulos e formas pré-definidas. Meu único compromisso é ser quem eu sou, onde, quando e como eu quiser”, afirma.

* Fotos by Dodô Villar.

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